Oxumare, (yoruba Òṣùmàrè) filho mais novo e preferido de Nanã, irmão de Ọmọlú. É uma entidade branca muito antiga, participou da criação do mundo enrolando-se ao redor da terra, reunindo a matéria e dando forma ao Mundo. Sustenta o Universo, controla e põe os astros e o oceano em movimento. Rastejando pelo Mundo, desenhou seus vales e rios. É a grande cobra que morde a cauda, representando a continuidade do movimento e do ciclo vital. A cobra é dele e é por isso que no Candomblé não se mata cobra. Sua essência é o movimento, a fertilidade, a continuidade da vida.
A comunicação entre o céu e a terra é garantida por Òṣùmàrè. Leva a água dos mares, para o céu, para que a chuva possa formar-se - é o arco-íris, a grande cobra colorida. Assegura comunicação entre o mundo sobrenatural, os antepassados e os homens e por isso à associa do ao cordão umbilical.
Òṣùmàrè é um Orixá bastante cultuado no Brasil, apesar de existirem muitas confusões a respeito dele, principalmente nos sincretismos e nos cultos mais afastados do Candomblé tradicional africano como a umbanda. A confusão começa a partir do próprio nome, já que parte dele também é igual ao nome do Orixá feminino Ọ̀ṣun, a senhora da água doce. Algumas correntes da Umbanda, inclusive, costumam dizer que Òṣùmàrè é uma das diferentes formas e tipos de Ọ̀ṣun, mas no Candomblé tradicional tal associação é absolutamente rejeitada. São divindades distintas, inclusive quanto aos cultos e à origem.
Em relação a Òṣùmàrè, qualquer definição mais rígida é difícil e arriscada. Não se pode nem dizer que seja um Orixá masculino ou feminino, pois ele é as duas coisas ao mesmo tempo; metade do ano é macho, a outra metade é fêmea. Por isso mesmo a dualidade é o conceito básico associado a seus mitos e a seu arquétipo.
Essa dualidade onipresente faz com que Òṣùmàrè carregue todos os opostos e todos os antônimos básicos dentro de si: bem e mal, dia e noite, macho e fêmea, doce e amargo, etc.
Nos seis meses em que é uma divindade masculina, é representado pelo arco-íris, sendo atribuído a Òṣùmàrè o poder de regular as chuvas e as secas, já que, enquanto o arco-íris brilha, não pode chover. Ao mesmo tempo, a própria existência do arco-íris é a prova de que a água está sendo levada para os céus em forma de vapor, onde se aglutinará em forma de nuvem, passará por nova transformação química recuperando o estado líquido e voltará à terra sob essa forma, recomeçando tudo de novo: a evaporação da água, novas nuvens, novas chuvas, etc.
Nos seis meses subseqüentes, o Orixá assume forma feminina e se aproxima de todos os opostos do que representou no semestre anterior. É então, uma cobra, obrigado a se arrastar agilmente tanto na terra como na água, deixando as alturas para viver sempre junto ao chão, perdendo em transcendência e ganhando em materialismo. Sob essa forma, segundo alguns mitos, Òṣùmàrè encarna sua figura mais negativa, provocando tudo que é mau e perigoso.
Não podemos nos esquecer de que tanto na África, como especialmente no Brasil, a população negra, foi continuamente assediada pela colonização branca. Uma das formas mais utilizadas por jesuítas para convencer os negros, era a repressão física, mas para alguns, não bastava o medo de apanhar. Eles queriam a crença verdadeira e, para isso, tentaram explicar e codificar a religião do Orixás segundo pontos de vista cristãos, adaptando divindades, introduzindo a noção de que os Orixás, seriam santos como os da Igreja Católica. Essa busca objetiva do sincretismo sem dúvida foi esbarrar em Òṣùmàrè e na cobra - e não há animal mais peçonhento, perigoso e pecador do que ela na mitologia católica.
Por isso, não seria difícil para um jesuíta que acreditasse sinceramente nos símbolos de sua visão teológica. Reconhecer na cobra mais um sinal da presença dos símbolos católicos na religião do Orixás e nele reconhecer uma figura que só poderia trazer o mal.
Na verdade, o que se pode abstrair de contradições como as que apresenta Òṣùmàrè é que este é o Orixá do movimento, da ação, da eterna transformação, do contínuo oscilar entre um caminho e outro que norteia a vida humana. É o Orixá da tese e da antítese. Por isso, seu domínio se estende a todos os movimentos regulares, que não podem parar, como a alternância entre chuva e bom tempo, dia e noite, positivo e negativo. Conta-se sobre ele que, como cobra, pode ser bastante agressivo e violento, o que o leva a morder a própria cauda. Isso gera um movimento moto-contínuo pois, enquanto não largar o próprio rabo, não parará de girar, sem controle. Esse movimento representa a rotação da Terra, seu translado em torno do Sol, sempre repetitivo- todos os movimentos dos planetas e astros do universo, regulados pela força da gravidade e por princípios que fazem esses processos parecerem imutáveis, eternos, ou pelo menos muito duradouros se comparados com o tempo de vida médio da criatura humana sobre a terra, não só em termos de espécie, mas principalmente em termos da existência de uma só pessoa. Se essa ação terminasse de repente, o universo como o entendemos deixaria de existir, sendo substituído imediatamente pelo caos. Esse mesmo conceito justifica um preceito tradicional do Candomblé que diz que é necessário alimentar e cuidar de Òṣùmàrè muito bem pois, se ele perder suas forças e morrer, a conseqüência será nada menos que o fim da vida no mundo.
Seu domínio se estende a todos os movimentos regulares que não podem parar, como a alternância entre o dia e a noite, o bom e o mal tempo (chuvas) e entre o bem e o mal (positivo e negativo).
Enquanto o arco-íris traz a boa notícia do fim da tempestade, da volta do sol, da possibilidade de movimentação livre e confortável, a cobra é particularmente perigosa para uma civilização das selvas, já que ela está em seu habitat característico, podendo realizar rápidas incertas.
Pierre Verger acrescenta que Òṣùmàrè está associado ao misterioso, a tudo que implica o conceito de determinação além dos poderes dos homens, do destino, enfim: É o senhor de tudo o que é alongado. O cordão umbilical, que está sob seu controle, é enterrado geralmente com a placenta, sob uma palmeira que se torna propriedade do recém-nascido, cuja saúde dependerá da boa conservação dessa árvore.
Características
Animais Cobra
Bebida Água Mineral
Comidas Batata doce em formato de cobra, bertalha com ovos
Cor Verde e amarelo (cores do arco-íris, ou, amarelo rajado de preto
Data Comemorativa: 24 de agosto
Dia da Semana Terça-feira
Elemento Água
Essências -
Fio de Contas Verde e amarelo
Flores Amarelas
Incompatibilidades sal, água salgada
Metal Latão (Ouro e Prata mesclados)
Numero 14
Odu Ika Meji
Pedras Ágata. Topázio,esmeralda, diamante
Planeta -
Ponto de Força
Pontos da Natureza Próximo da queda da cachoeira.
Saudação Arrobobô
Saúde pressão baixa, vertigens, problemas de nervos, problemas alérgicos e de pele
Símbolo Cobra e Arco-Íris.
Sincretismo: São Bartolomeu
Folhas
Alcaparreira
Altéia
Angelicó
Araticum de Areia (àbo)
Batata Doce (ewé kúkúndùnkú)
Cavalinha
Coqueiro de Vênus (ewé pẹ̀rẹ̀gún funfun)
Dormideira (apẹ̀jẹ̀)
Dracena Listrada (ewé pẹ̀rẹ̀gún lo)
Erva de Passarinho (àfòmọ́)
Erva de Passarinho (àfòmọ́)
Erva de Sangue
Erva Pombinha (ewé bojútọ́na)
Folha da Riqueza (ewé ajé)
Gravíola (ẹ̀kò òyìnbó)
Ingá-bravo (àpàpó)
Jibóia (ewé dan)
Leiteirinho (ewé bonokó)
Língua de Galinha (àlùpàyídá)
Língua de Galinha (àlùpàyídá)
Malva Rosa
Melão de São Caetano (ẹ́jìnrìn)
Samambaia de Poço (òmun)
Tomate (tòmátì)
Jaqueira (àpaòká)
Atribuições
Òṣùmàrè, é a renovação continua, mas em todos os aspectos e em todos os sentidos da vida de um ser. É a renovação do amor na vida dos seres. E onde o amor cedeu lugar à paixão, ou foi substituído pelo ciúme, então cessa a irradiação de Ọ̀ṣun e inicia-se a dele, que é diluidora tanto da paixão como do ciúme. Ele dilui a religiosidade já estabelecida na mente de um ser e o conduz, emocionalmente, a outra religião, cuja doutrina o auxiliará a evoluir no caminho reto.
Qualidades
Dan - Corresponde ao nome Jeje de Òṣùmàrè e, no Alakétu, constitui uma qualidade deste último: é a cobra que participou da criação. É uma qualidade benéfica, ligada à chuva, à fertilidade e à abundância; gosta de ovos e de azeite de dendê. Como tipo humano, é generoso e até perdulário.
Dangbé - É um Òṣùmàrè mais velho que seria o pai de Dan; governa os movimentos dos astros. Menos agitado que Dan, possui uma grande intuição e pode ser um adivinho esperto.
Becém - Dono do terreiro do Bogun, veste-se de branco e leva uma espada. Becém é um nobre e generoso guerreiro, um tipo ambicioso, combativo de Òṣùmàrè, menos afectado e menos superficial que Dan. Aido Wedo, também é uma qualidade de Òṣùmàrè conhecida no Bogun.
Azaunodor - É o príncipe de branco que reside no Baobá, relacionado com os antepassados; come frutas e leva tudo de dois.
Frekuen - É representado pela Serpente mais venenosa. O lado masculino de Òṣùmàrè é geralmente representado pelo Arco-Íris.
O orixá possui ainda vários outros nomes na África como no Brasil, que como acontece com todos os outros Orixás, se referem a cidades, lendas ou cultos específicos de uma determinada região, e com isso ganha suas particularidades e costumes; alguns dessas outros nomes são: Akemin, Botibonan, Besserin, Dakemin, Bafun, Makor, Arrolo, Danbale, Foken, Darrame, Araka, Averecy, Akoledura e Bakilá.
Lendas de Òṣùmàrè
Como Òṣùmàrè se tornou rico
Òṣùmàrè era o babalaô da corte de um rei que, embora fosse rico e poderoso, não pagava bem seu sacerdote, que vivia na pobreza. certo dia, Òṣùmàrè perguntou a ifá o que fazer para ter mais dinheiro; ifá disse que, se ele lhe fizesse uma oferenda, ele o tornaria muito rico. Òṣùmàrè preparou tudo como devia mas, no meio do ritual, foi chamado ao palácio. não podendo interromper o ritual, ele não foi; então, o rei suspendeu seu pagamento. quando Òṣùmàrè pensava que ia morrer de fome, a rainha do reino vizinho chamou-o para tratar seu filho doente e, como Òṣùmàrè o salvou, a rainha pagou-o muito bem. com medo de perder o adivinho, o rei lhe deu ainda mais riquezas, e assim se cumpriu a promessa de ifá.
Orixá do arco-íris !!!
Certa vez, Ṣàngó viu Òṣùmàrè passar, com todas as cores de seu traje e todo o brilho de seu ouro. Ṣàngó conhecia a fama de Òṣùmàrè não deixar ninguém dele se aproximar. Preparou então uma armadilha para capturar Òṣùmàrè. Mandou uma audiência em seu palácio e, quando Òṣùmàrè entrou na sala do trono, os soldados chamaram para a presença de Ṣàngó e fecharam todas as janelas e portas, aprisionando Òṣùmàrè junto com Ṣàngó. Òṣùmàrè ficou desesperado e tentou fugir, mas todas as saídas estavam trancadas pelo lado de fora.
Ṣàngó tentava tomar Òṣùmàrè nos braços e Òṣùmàrè escapava, correndo de um canto para outro. Não vendo como se livrar, Òṣùmàrè pediu a Ọlọ́run e Ọlọ́run ouviu sua súplica. No momento em que Ṣàngó imobilizava Òṣùmàrè, Òṣùmàrè foi transformado numa cobra, que Ṣàngó largou com nojo e medo.
A cobra deslizou pelo chão em movimentos rápidos e sinuosos. Havia uma pequena fresta entre a porta e o chão da sala e foi por ali que escapou a cobra, foi por ali que escapou Òṣùmàrè.
Assim livrou-se Òṣùmàrè do assédio de Ṣàngó. Quando Òṣùmàrè e Ṣàngó foram feitos Orixás, Òṣùmàrè foi encarregado de levar água da Terra para o palácio de Ṣàngó no Orum (céu), mas Ṣàngó não pôde nunca aproximar-se de Òṣùmàrè.
Como Òṣùmàrè serve à Ọ̀ṣun e Ṣàngó
Quando Ṣàngó e Ọ̀ṣun quiseram se casar, perceberam que seria difícil viverem juntos, pois a casa de Ọ̀ṣun era no fundo do rio e Ṣàngó morava por cima das nuvens. então, resolveram arranjar um criado que facilitasse a comunicação entre os dois. falaram com Òṣùmàrè, que aceitou servir de mensageiro entre eles. só que, durante a metade do ano em que é o arco- íris, Òṣùmàrè levava as águas de Ọ̀ṣun para o céu; não chovia e a terra ficava seca. por isso, Òṣùmàrè resolveu que, nos seis meses em que fosse cobra, deixaria o serviço. nesse período, Ṣàngó precisa descer até Ọ̀ṣun, e então acontecem os temporais da estação das chuvas.
Livros
Título : O Cavaleiro do Arco-Íris
Autor : RUBENS SARACENI
Título : Oxumaré - O Arco-Íris Sagrado
Autor : Lurdes de Campos Vieira
Saiba Mais
Umbanda
Trono do Amor
Mistérios
O Mistério Serpente
Referências
Sociedade Espiritualista Mata Virgem
Templo de Umbanda Sagrada Sete Luzes Divinas
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